Medicina é vocação.....

A arte de diagnosticar encanta muitos, mas poucos são os escolhidos para essa área tão brilhante e entediante..............

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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

USO DO "SOS"

Assunto: Uso de SOS

SOS – S.O.S. Dipirona 2ml IV SOS até 6/6 h. Retorno SOS. Ocorre o uso
regional dessa sigla, em prescrições e anotações médicas. Não é, entretanto,
adequado seu uso nesse sentido, mormente em documentos científicos formais,
em lugar de se necessário ou a critério médico.

Há entidades médicas que usam SOS em suas designações, como Programa SOS
Down, do Hospital Infantil Darcy Vargas, Pronto Socorro SOS e outros. O
código foi criado, em 1906, e adotado em 1908 em uma convenção international
de radiotelegrafia, para uso em situações de riscos inicialmente no âmbito
de navegação marítima e depois também aérea ou de uso militar, emitido em
código Morse (três pontos [três toques rápidos], três traços [três toques
espaçados], três pontos), como sinal internacional de perigo,
arbitrariamente escolhidos por serem de fácil transmissão (Chambers, Dic.
etim., 2000).

Erroneamente, diz-se significar “save our souls”, “save our ship” ou “send
out succour”, mas não é uma sigla (Chambers, ob. cit.); portanto, é
irregular escrever S.O.S. porquanto, em código Morse, o ponto é expressivo e
isso exigiria mais três sistemas de toques correspondentes aos pontos além
dos que representam SOS. Por extensão, atualmente significa qualquer sinal
de perigo (dispositivos luminosos, disparos, sons). Seu uso em prescrições
médicas para ministrar medicações SOS é errôneo por possibilitar que a
indicação seja feita pelo paciente, pelo acompanhante, pela mãe, ou por
profissionais não médicos. Além disso, nesse sentido, não é utilizado
nacionalmente, o que configura regionalismo.

Respeitáveis cultores do estilo de redação científica enfatizam a utilização
das unidades lexicais em seu sentido exato e o mais amplamente conhecido.
Atualmente é o sistema GPS por satélite o usado internacionalmente para
solicitação de socorros.

Prescrever medicamentos para serem ministrados “SOS” ou “se necessário” é
censurável. O critério de uso não poderia ser feito pelo paciente
(automedicação), pelos acompanhantes ou pela enfermagem, em relação a
analgésicos, anti-inflamatórios, psicofármacos, antieméticos e outros
medicamentos, e alguns com administrações fixas de doses e horários.

Medicações feitas nesse regime possibilita o diagnóstico de sintomas e
sinais ser feito por pessoal não médico, até mesmo pelo próprio paciente ou
seu acompanhante. Em análise rigorosa, equivale a medicar o enfermo sem
exame médico. Tais sintomas ou sinais podem acompanhar-se de outros males
que precisam ser também diagnosticados e tratados. A desidratação em
recém-nascidos pode causar febre, tratável pela “dipirona SOS”, que não
trataria a desidratação. Movimentos por inquietação podem ser tomados por
convulsão e, assim, seriam “tratados” com anticonvulsivo SOS. Mal-estar de
origem metabólica em criança pode motivar choro e ser confundido com dor, e
o paciente pode vir a ser medicado inadequadamente com “dipirona SOS”.
Também, “Plasil SOS” assinala, estranhamente, que o paciente será medicado
sempre depois que os vômitos já ocorreram e estes poderão estar de volta
quando o efeito medicamentoso cessar. Isso poderá ser evitado se o
medicamento for aplicado a cada 8 horas. “Isordil SOS” pode ser administrado
erroneamente em caso de enfarto agudo do miocárdio como complicação em casos
internados por angina do peito.

Em lugar de SOS ou “se necessário”, é regular escrever “a critério médico”
ou especificar o critério de uso. Por exemplo, “dipirona 40 gotas. por via
oral, se a temperatura axilar for acima de 37ºC, em intervalos mínimos de 6
horas.

Simônides Bacelar
Médico, Hosp Univ. de Brasília - UnB